Repetir na ignorância ou na novidade?

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Um dos “novos sintomas” bastante frequentes na escuta clínica psicanalítica na atualidade é o Transtorno de Compras Compulsivas (TCC), também chamado de Oniomania.

Embora não esteja incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), é frequentemente caracterizado como um transtorno no controle dos impulsos, levando o sujeito a comprar além de sua necessidade e dos próprios recursos financeiros.

Envolve-se mais com o ato de comprar do que com o próprio produto adquirido, frequentemente enfrentando dificuldades em resistir a ofertas, facilidades de pagamento e produtos relacionados à sua identidade pessoal e social.

As transformações no sistema capitalista, um modelo econômico com ênfase no consumo, ajudam a compreender o contexto histórico e a relação do sujeito com fenômenos socioculturais e políticos inerentes a essa contemporaneidade.

No capitalismo, há uma excessiva publicidade de objetos, nos mais diversos formatos de veiculação, ofertados como capazes de entregar completude ao sujeito, mediando assim a sensação de inclusão e exclusão dos sujeitos.

Além disso, a publicidade acrescenta às mercadorias o fetiche da imagem e da marca que se oferecem à identificação de todos, independentemente do poder aquisitivo.

O ato de comprar compulsivamente pode ser entendido como uma tentativa repetitiva e inconsciente de retorno ao estado anterior de satisfação. A pulsão, um dos conceitos centrais para a psicanálise, é um esforço para reencontrar um objeto, reinstituir um objeto, para atender a uma demanda do Outro.

É um conceito limite entre o somático e o psíquico. Comprar o look usado por tal influencer ou pela modelo daquela marca “hypada”, por exemplo, tem muito mais a ver com o desejo por reconhecimento como aquela que “está sempre na moda”, um sentimento velho conhecido desde os tempos do colégio, onde ser popular era o máximo, e muito menos com o objeto adquirido em si.

Se quiséssemos aprofundar ainda mais a discussão, poderíamos trazer o conceito de Objeto a de Lacan, que é o objeto causa do desejo e condensador de gozo, uma maneira paradoxal de satisfação. Em outras palavras, o desejo não é de um objeto em si, mas do desejo do desejo do Outro.

Nesse sentido, o Outro, o grande mestre do gozo, é a publicidade que nos convoca a gozar constantemente e sem limites. Não temos mais a pressão das pulsões a partir do superego, e sim a administração do gozo.

Atender a esses chamados faz com que as pessoas comprem sem saber o porquê de estarem comprando, alienando-se de seu desejo e se tornando presas da alienação que faz seu desejo responder ao desejo de um Outro – sou aquela que você diz que eu sou.

Se não se colocar uma borda, age-se como se o dinheiro fosse infinito e contraem-se dívidas impagáveis, o que pode ter desdobramentos como problemas de relacionamentos, divórcios, demissões em empregos e isolamento social.

E você, tem repetido comportamentos na ignorância ou na novidade?

Por hoje, ficamos por aqui.